16/09/2011

Reportagem - Dalai Lama prega criatividade, amor e perdão a empresários - Por Soraia Yoshida

Em sua quarta visita ao Brasil, o líder espiritual tibetano tem tratamento de ídolo pop e fala sobre a responsabilidade individual na busca de um mundo melhor

“Ele está chegando!”. O nervosismo tomou conta do hall de entrada do auditório do World Trade Center, em São Paulo, onde mais de 500 empresários, professores universitários, especialistas em coaching e jornalistas aguardavam há pelo menos duas horas pela chegada do Dalai Lama. Ladeado por agentes da Polícia Federal, ele vinha para falar sobre a nova ética nos negócios. Mas para todos os incautos que chegavam pelo elevador ao último andar do prédio, mais parecia que a multidão de fotógrafos e tietes esperava um rockstar.

"A paz não cai do céu nem é conquistada através da reza", garante Dalai Lama

“O Brasil chama atenção de todos. Agora vocês têm a oportunidade de serem ouvidos. Façam o esforço de diminuir o abismo entre ricos e pobres”

Tenzin Gyatso, como se chama o líder espiritual do Tibete e Prêmio Nobel da Paz, é mesmo um rockstar. Para a plateia que o recebeu ainda timidamente duas horas depois do horário marcado, ele quebrou o gelo dizendo “Estou um pouco atrasado. Até já passou da minha hora de dormir”. Diante de tantos empresários, ele assegurou que não entendia nada de negócios e que certamente, se tivesse um, a empresa iria à falência. Mas entre risadas e histórias sobre sua andança pelo mundo, o XIV Dalai Lama passou seu recado: que todos, empresários, governantes, cidadãos, são responsáveis por um futuro mais sustentável, que ele espera seja livre também de armas nucleares e do modelo econômico competitivo que se alimenta da guerra e da fome. “O Brasil chama atenção de todos. Agora vocês têm a oportunidade de serem ouvidos. Façam o esforço de diminuir o abismo entre ricos e pobres”, disse à plateia.

Pregando o altruísmo, a libertação da mente e do egoísmo, o Dalai Lama comentou que a crise financeira mundial tem suas raízes em métodos que só enxergam os problemas no curto prazo – o que ele chama de uma visão míope frente ao mundo. “É impossível eliminar todos os problemas, mas precisamos usar um método para buscar soluções porque não há outro jeito. Este deve ser o século em que temos de acabar com a guerra”, disse. Segundo ele, não é mais possível seguir o modelo do século passado, marcado por violência e muita corrupção. “O mundo deveria se livrar de todas as armas nucleares e de conflitos”, afirmou.

Em um giro pela América Latina, o Dalai Lama já passou pelo México e pela Argentina, de onde voou para o Brasil. O evento desta quinta-feira, organizado pelo Fórum de Líderes e pela Palas Athena, teve o ex-ministro Ozires Silva como um dos oradores. A espera de duas horas acabou sendo preenchida também por depoimentos pessoais sobre o por quê estavam ali para ouvir o líder espiritual tibetano. “Temos carência de líderes centrados em valores”, disse o consultor em coaching e ex-professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Ricardo Farah. Sua fala deu o tom para que o evento ganhasse um clima menos sisudo, mas abriu as comportas para discursos sobre o novo milênio e conexão espiritual.

Em seu próprio discurso, o Dalai Lama tocaria nesses temas com mais leveza. “Nós somos seres criativos”, disse. “Se você pensar nesses termos, com amor e perdão, é um caminho. Sem Deus, mas vendo você mesmo como criador de coisas boas. Esse é o caminho para o verdadeiro altruísmo”.

Sua santidade indicou que não estava ali para pregar religião. Chegou a brincar dizendo que, religiosamente falando, é um “marxista”. Logo no início de sua palestra, ele já havia feito comentários sobre a China atual, um “pais comunista, com uma economia capitalista”, fato que ele definiu como “muito impressionante”. A China incorporou o Tibete em 1950 e chegou a firmar um acordo que dava autonomia ao país, mas passou a interferir mais e mais em um processo que culminou com a rebelião tibetana em 1959. O Dalai Lama teve de fugir para a Índia – onde estabeleceu seu governo no exílio. Este ano, ele anunciou que abdicava de seu papel político em favor de eleições, vencidas por Lobsang Sangay, formado pela Harvard, que assumiu em agosto.

Ao final da palestra, o Dalai Lama respondeu a algumas perguntas da plateia. Diante de "O senhor é feliz?", ele disse "Não sei". Riu e depois emendou: "Quando eu falo e a plateia me encara com uma cara fechada, eu não sou feliz. Mas quando eles me olham e riem, eu fico feliz". Os brasileiros responderam com uma salva de palmas.

Grifos meus!!!! Gente eu queria muito ter visto! Obrigada Soraia pela reportagem.

Nós líderes e seres mortais..... mão na massa!

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